Jesus e a justiça ambiental

07/11/2011 15:18

Acontece neste domingo (dia 06), o Dia Global de Oração e Ação para Enfrentamento das Mudanças Climáticas, organizado pela Tearfund. Por esta razão, publicamos abaixo o sermão do Rev. James Jones, bispo anglicano da Diocese de Liverpool, Inglaterra, e autor de Jesus e a Terra – a ética ambiental nos evangelhos.

 
Vozes proféticas: mobilizando o povo de Deus 
1. "Quando o Filho do Homem vier, ele achará fé (no Deus da Justiça) na terra? (Lucas 18).

Este é um dos sete "Filhos do Homem/Terra" ditos nos evangelhos. A viúva na parábola pede ao juiz por justiça. Ela sabe que em Deuteronômio está escrito: “Maldito seja quem priva a viúva ou órfão da justiça”. Jesus usa a profética persistência dela para nos encorajar a manter a fé e permanecer orando para que o Deus da Justiça faça sua justa vontade na terra. As viúvas e órfãos das mudanças climáticas clamam a Deus hoje por justiça climática. Esta parábola não é apenas sobre a fé ou orações em geral. É uma parábola sobre orar e ter fé no Deus Justo e na sua justiça na terra. 
 
Por muito tempo tem havido uma divisão entre as doutrinas de salvação pessoal e justiça social. Como uma pessoa pode ser reconciliada através da cruz de Jesus Cristo com o Deus da justiça e misericórdia e não ser apanhado na vontade de Deus para agir com justiça, amor misericordioso e fazer a vontade de Deus assim na terra como no céu? 
 
Justiça social e salvação pessoal são dois lados de uma mesma moeda. Existe uma inseparável relação entre a doutrina de justificação pela fé e a promessa de justiça no mundo de Deus. É por isso que “a fé sem obras é morta”. No coração da oração do Pai Nosso está esta petição para fazermos a vontade de Deus na terra assim como ela é feita nos céus. Esta e uma oração para ligar a Terra ao Céu. O Filho do Homem tem um único e glorioso papel na “renovação de todas as coisas” (Mt 19.28).
 
2. As sete passagens onde aparecem a palavra terra e Jesus chama a si mesmo como Filho do Homem: 
 
- “O Filho do Homem tem autoridade na terra para perdoar pecados” (Mt 9.2-8) 
- “O Filho do Homem estará no coração da terra" (Mt 12.38-42) 
- “O sinal do Filho do Homem aparecerá nos céus e então todas as tribos da terra se lamentarão”. (Mt 24.27-30) 
- “(Deus) rapidamente garantirá justiça pra eles. Mas quando o Filho do Homem vier, será que achará fé na terra? (Lc 18.8) 
- “Isto cairá sobre todos que vivem na face da terra. Estejam sempre atentos e orem para que permaneçam firmes... e poderem estar em pé diante do Filho do Homem”. (Lc 21.35-36) 
- “Chegou a hora de ser revelada a natureza divina do Filho do Homem. Verdadeiramente, se um grão de trigo não for jogado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão...” (Jo 12.23-24)
- “Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim... Como você pode dizer que o Filho do Homem precisa ser levantado da terra?” (Jo 12.32-34) 
 
3. Os principais estudos clássicos sobre o sentido de “Filho do Homem” foram realizados num tempo quando a igreja e seminários não estavam conscientes da crise ecológica tão forte sobre a terra.
 
“Assim como Jonas esteve por três dias e três noites na barriga de um monstro marinho, por três dias e três noites o Filho do Homem estará no coração da terra” (Mt 12.40). O que aconteceu antes de Jesus ter sido colocado no coração da terra? A terra treme. Que aconteceu quando ele, o Filho do Homem, ressuscita do coração da terra? A terra treme de novo. A terra é o comentarista mais eloquente sobre a morte, sepultamento e ressurreição do Filho do Homem do que a cortina do templo. Os tremores da terra são uma expressão de Romanos 8.19-23? 
 
4. “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir" (Mc 10.45)
 
A primeira menção de Adão servindo em relação à terra está em Gênesis 2.15. Gordon Wenham explora o papel sacerdotal do Adão no Jardim do Éden. Ele expõe o versículo de Gênesis 2.15: “O Senhor tomou ao homem (Adão) e colocou ele no jardim para cultivar e guardar”. As palavras hebreias AVAD (cultivar) e SHAMAR (guardar/cuidar) são variadas e melhor traduzidas como “servir” e “preservar”. O que Wenham destaca é “que as únicas passagens no Pentateuco onde estes dois verbos são usados juntos estão em Números 3.7-8, 8.26 e 18.5-6, sobre os deveres dos levitas de guardar e ministrar no santuário". Wenham aponta que se o Jardim do Éden fosse visto como o santuário de Deus então talvez “Adão deveria ser descrito como o arquetípico Levita”, como o sacerdote do Jardim de Deus. O apontamento de Wenham nos dá uma base bíblica sólida para uma ideia que é rica na tradição ortodoxa e exposta eloquentemente pelo Arcebispo John Zizioulas de Pérgamo: que a humanidade é o Sacerdote da Criação e que “o homem foi criado para unir toda a natureza para Deus” (Christian Dogmatics, p.90, T+T Clark). 
 
Servir e preservar a terra são vocações da humanidade, assim como exercer domínio semelhantemente como Deus. Adão foi chamado a ser o primeiro servo de Deus. O poeta George Herbert captou lindamente este papel sacerdotal da humanidade pela criação em um poema chamado “Providência” que, na verdade, é o termo teológico para o conceito moderno conhecido como “Sustentabilidade”. Helbert diz: “O homem é o supremo sacerdote do mundo”. Deixe-me citar mais dos versos para dar-lhe um sabor deste mundo sustentável:
 
“As abelhas trabalham para o homem; contudo nunca injuriam 
Suas flores mestras, mas deixa-as, após tendo feito; 
Como justas, como sempre, e aptas para uso; 
Assim, tanto permanece a flor, e o mel.” 
 
É certo que George Herbert omite as forças que existem dentro da natureza que Alfred Tennyson capturou tão vividamente em seu poema “Em Memória”, sobre a natureza sendo “vermelha em dentes e garra”. No entanto, mesmo Tennyson se harmoniza com a visão de Herbert sobre a providência, apresentando no prefácio do mesmo poema que, 
 
“Quem confia em Deus foi amado de verdade 
E ama a lei final de sua Criação.” 
 
É por amor que Deus criou o mundo e sustenta a sua criação. A humanidade, os filhos de Adão possuem um papel sacerdotal para servir e preservá-la. Na verdade é a providência de Deus que proporciona à humanidade atuar como agente da conservação. É esta visão teológica e bíblica que deve comunicar nossa atitude para com a terra e toda a Criação de Deus.
 
5. Porque temos negligenciado nossa responsabilidade dada por Deus para servir e preservar a terra, o planeta esta fora dos eixos.
 
Mudança climática é um sintoma de uma doença moral. A tragédia é que os mais afetados estão sem o poder para mudar a situação; aqueles com poder não percebem os efeitos completos de nosso desregramento e não estão usando o desafio moral. É aí que reside a injustiça. Copenhagen* é uma oportunidade para restabelecer o equilíbrio e agir urgentemente para alcançar a justiça climática. Irá, o Filho do Homem na sua vinda, encontrar-nos com fé, orando e agindo pelo estabelecimento da justiça na terra? 
 
6. Oração: Santo Jesus, venha em glória e renove a face da terra!
 
 
* James Jones refere-se a 15ª Conferência Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15) ocorrida nos dias 7 a 18 de dezembro de 2009, em Copenhagen/Dinamarca.

 
Nota
Este sermão foi ministrado pelo Rev. James Jones dia 17 de junho de 2009, em Nairobi (Quênia), na 4° Consulta Trienal Global da Rede Miquéias sobre Mordomia da Criação e Mudanças Climáticas. O texto original (inglês) encontra-se aqui
Tradução: Hernani Gomes da Cunha Ramos e Maria Eugenia Barrientos, voluntários A Rocha Brasil (www.arocha.org.br).

 
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Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/jesus-e-a-justica-ambiental