Quem bate?
16/11/2011 08:58
O apóstolo Paulo disse que sofria o que restava dos sofrimentos de Cristo pela Igreja. Não se referia a qualquer participação no sacrifício vicário, mas, certamente, a essa postura desobediente que se manifestou em Laodicéia e na história da Igreja, de modo geral.
Teimosamente, insistimos na ruptura, na divisão, no cisma.
A Igreja dos laodicenses estava encantada com o poder econômico, interpretando-o como benesse divina, enquanto o Senhor denunciava o seu isolamento.
A cada geração parece que nos encantamos com algo que acaba por nos apartar do Cristo, julgando estar sob suas bençãos.
Não podemos cair no equívoco da Igreja que estava em Corinto, que segundo Paulo, havia partido o Corpo do Cristo ou, ao menos, agido como se isso fosse possível.
Artigo publicado originalmente pela Aliança Evangélica com o título Relevância. “Identidade, Unidade e Missão” será o tema do 1º Fórum da Aliança Evangélica que acontece de 24 a 26 de novembro, em Brasília (DF).
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O Novo Testamento começa com Deus fora do Templo e termina com Jesus fora da Igreja.
João Batista começa o seu ministério anunciando que era a voz daquele que clamava do deserto. E quem clamava do deserto era Deus.
Jesus, em sua última carta, está à porta da igreja em Laodicéia, na expectativa de alguém o ouça e lhe abra a porta de sua casa.
Isto significa que, desde o início, estamos a lutar pela Igreja.
É assim que vejo a Aliança Evangélica (ACEB), como um esforço para que o Cristo não perca a esperança para com a Igreja que está no Brasil, como parece ter perdido com a que estava em Laodicéia.
O apóstolo Paulo disse que sofria o que restava dos sofrimentos de Cristo pela Igreja. Não se referia a qualquer participação no sacrifício vicário, mas, certamente, a essa postura desobediente que se manifestou em Laodicéia e na história da Igreja, de modo geral.
Teimosamente, insistimos na ruptura, na divisão, no cisma.
A Igreja dos laodicenses estava encantada com o poder econômico, interpretando-o como benesse divina, enquanto o Senhor denunciava o seu isolamento.
A cada geração parece que nos encantamos com algo que acaba por nos apartar do Cristo, julgando estar sob suas bençãos.
Então, os bispos da Igreja precisam encontrar-se sistematicamente, estar em permanente concílio, para não ser traído ou atraído pelo espírito de cada época, que é sempre espírito de rebelião.
Manter um estado permanente de concílio entre iguais mantém-nos atentos a nós mesmos e, mais, ao movimento da sociedade e de seu inspirador. A luta por manter a catolicidade, a santidade, a unidade e indivisibilidade da Igreja é hercúlea e necessária.
Não podemos cair no equívoco da Igreja que estava em Corinto, que segundo Paulo, havia partido o Corpo do Cristo ou, ao menos, agido como se isso fosse possível.
Alguém já disse que a “praia” protestante não é a unidade, mas a verdade. Acho que foi assim, durante séculos, mas houve e há a era moderna das perseguições aos cristãos, levada a cabo por ideologias e por religiões com vocação hegemônica e, mais recentemente, pelo secularismo; e a questão já não é se o sujeito assina embaixo de todas as minhas convicções, mas se ele vai morrer comigo por Cristo. E se ele vai morrer comigo, comigo poderia viver, ainda que estivéssemos sempre nos amolando, como o ferro afia o ferro.
A questão que afasta Jesus de Laodicéia é uma crise de valores, de perda de identidade; não há menção de desvio confessional, há uma crise de coerência. É, guardadas as devidas proporções, o que vemos no Brasil: provavelmente, a maioria dos protestantes e evangélicos subscrevem confissões de fé muito semelhantes, mas vivemos em meio a uma crise de identidade quanto aos valores que devemos sustentar nesse momento da história. E como os devemos sustentar.
Não entendo a Aliança como uma questão de mera representatividade frente ao Estado, mas como uma aglutinadora da Igreja frente ao novo Estado que se anuncia no país - marcado pelo crescimento econômico, pelo estertor da luta ideológica, pela necessidade de parecer moderno, pela tentativa de deixar de ser uma sociedade que, principalmente, luta por sua sobrevivência, para tornar-se uma sociedade global, moderna, capaz de reinventar costumes e propor caminhos, mesmo tendo de conviver com o analfabetismo funcional e com o remanescente da cosmovisão feudal, quando não, medieval.
A Igreja que está no Brasil tem uma tarefa nova: por estar crescendo a olhos vistos, se torna a nova fonte de insumos para a construção da ética da nova Nação que se avizinha, fruto de sua inserção nessa transformação global, que ameaça redefinir a ordem do poder econômico e político no mundo.
Como reduzir nosso papel a de mero espectador se, gostando ou não, somos agentes na sociedade como sal e como luz, com a demanda de construir uma cidade sobre uma montanha de forma a ser vista por todos em todos os cantos?
Jesus está do lado de fora de Laodicéia, tentando chamar a atenção da Igreja. O que há do lado de fora da Igreja? Que lugar ele encontrou? E de onde chama a Igreja? Ele chama quem o ouve para assentarem-se juntos no seu trono. Se não for dentro da Igreja, de onde Jesus reinará? Quem é idôneo para responder tais questões? Acho que o grande desafio de uma Aliança é esse, o de perceber o movimento de Jesus na história, para que a Igreja continue sua relevância na sinalização da presença do Reino entre e em nós.
Artigo publicado originalmente pela Aliança Evangélica com o título Relevância. “Identidade, Unidade e Missão” será o tema do 1º Fórum da Aliança Evangélica que acontece de 24 a 26 de novembro, em Brasília (DF).
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Ariovaldo Ramos é pastor na Comunidade Cristã Reformada e na Igreja Batista de Água Branca, ambas em São Paulo
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Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/quem-bate